As histórias de Jordi Savall, Michel Godard e Kathryn Tickell ilustram de maneira poderosa como a jornada de luthier a performer pode enriquecer profundamente a expressão musical. Estes artistas não apenas dominaram a arte de construir instrumentos, mas também encontraram maneiras únicas de dar vida a essas criações através de suas performances.
Mestre da Viola da Gamba
Suas experiências nos mostram que há uma sinergia especial que surge quando o criador do instrumento também se torna seu intérprete. Esta conexão íntima com o processo de criação permite uma compreensão profunda das capacidades e nuances do instrumento, levando a performances que são verdadeiramente únicas e expressivas.
Esta dualidade de papéis também oferece uma perspectiva única sobre a evolução dos instrumentos musicais. Como luthiers, estes artistas estão em uma posição privilegiada para experimentar com novos designs e materiais, sempre com o objetivo de melhorar o som e a jogabilidade. Como performers, eles podem testar imediatamente essas inovações em um contexto musical real, fornecendo feedback imediato que informa futuras iterações do instrumento.
Além disso, estes músicos-luthiers desempenham um papel crucial na preservação e evolução de instrumentos históricos. Ao trazer instrumentos como a viola da gamba, o serpentam e a gaita de foles de Northumberland para contextos musicais contemporâneos, eles estão não apenas mantendo vivas tradições antigas, mas também criando possibilidades para o futuro da música.
Seu trabalho serve como uma ponte entre o passado e o presente, demonstrando como instrumentos antigos podem permanecer relevantes e vibrantes no cenário musical moderno. Ao mesmo tempo, eles estão expandindo os limites do que esses instrumentos podem fazer, explorando novas técnicas de execução e colaborando com músicos de diversos gêneros.
A jornada destes artistas nos lembra que a música é uma arte viva, em constante evolução. Ao fundir o conhecimento profundo da construção de instrumentos com a criatividade da performance, eles estão criando uma forma de expressão musical que honra o passado enquanto abraça o futuro.
Esta abordagem holística para a música – que engloba construção, performance e inovação – oferece um modelo inspirador para as futuras gerações de músicos. Ela demonstra o valor de uma compreensão profunda e multifacetada do instrumento, que vai além da mera técnica de execução.
Suas histórias são um testemunho do poder da paixão, da dedicação e da criatividade. Elas nos inspiram a olhar para os instrumentos musicais não apenas como ferramentas, mas como extensões da expressão artística humana. E nos lembram que, às vezes, para verdadeiramente dominar uma arte, é preciso entendê-la desde sua concepção até sua expressão final.
Mais do que isso, as experiências destes artistas destacam a importância da experimentação e da inovação na música. Ao desafiar as convenções e explorar novos territórios, eles estão expandindo as possibilidades expressivas de seus instrumentos e inspirando outros músicos a fazer o mesmo.
Assim, na sinfonia da criação e performance que estes artistas orquestram, ouvimos não apenas as notas de uma música, mas o eco de séculos de tradição, o sussurro de inovações futuras, e a harmonia única que surge quando o criador e a criação se tornam um. É uma melodia que ressoa com a riqueza da história musical, a emoção da expressão artística e a promessa de descobertas sonoras ainda por vir.
Em última análise, a jornada destes luthiers-performers nos lembra que a música é mais do que simplesmente tocar notas em um instrumento. É um processo holístico que engloba criação, interpretação e inovação. É uma celebração da criatividade humana em sua forma mais pura e uma ponte que conecta passado, presente e futuro em uma sinfonia atemporal de expressão artística.
Entrevista com Jordi Savall
Entrevistador: Jordi, como sua experiência na construção de violas da gamba influenciou sua abordagem à performance?
Jordi Savall: A construção de instrumentos me deu uma compreensão profunda da alma da viola da gamba. Cada peça de madeira, cada curva do instrumento, conta uma história. Quando toco, sinto que estou dando voz não apenas à música, mas ao próprio instrumento. Essa conexão íntima com o processo de criação me permite explorar nuances sonoras que talvez passassem despercebidas para alguém que não tenha essa experiência de luthier.
Por exemplo, entendo como a espessura da madeira afeta a ressonância, como a tensão das cordas influencia o timbre, e como pequenas variações na construção podem criar características sonoras únicas. Isso me permite adaptar minha técnica de execução para extrair o melhor som possível de cada instrumento que toco.
Além disso, minha experiência como luthier me deu uma apreciação mais profunda pela história e evolução da viola da gamba. Posso sentir nas minhas mãos as decisões tomadas pelos construtores de instrumentos ao longo dos séculos, e isso informa minha interpretação da música de diferentes períodos históricos.
Entrevistador: Você acha que sua habilidade como luthier lhe dá uma vantagem única como performer?
Jordi Savall: Absolutamente. Entender a mecânica interna do instrumento me permite levá-lo aos seus limites de maneira segura e efetiva. Sei exatamente como o instrumento responderá a diferentes técnicas e posso ajustar minha performance de acordo. Além disso, posso fazer pequenos ajustes e reparos no local, o que é inestimável durante turnês.
Esta habilidade também me permite personalizar meus instrumentos para atender às demandas específicas de diferentes repertórios. Por exemplo, posso ajustar a ação das cordas ou a altura do cavalete para facilitar a execução de passagens particularmente desafiadoras. Isso me dá uma liberdade artística que não seria possível sem meu conhecimento de luthier.
Além disso, minha experiência na construção me permite comunicar mais efetivamente com outros luthiers quando preciso de instrumentos específicos para projetos especiais. Posso descrever exatamente o que preciso em termos técnicos, o que resulta em instrumentos que são verdadeiramente adequados às minhas necessidades artísticas.
Entrevistador: Como você vê o futuro da viola da gamba na música contemporânea?
Jordi Savall: Vejo um futuro brilhante. A viola da gamba tem uma voz única que está encontrando novos espaços na música contemporânea. Como alguém que entende profundamente o instrumento, posso colaborar com compositores modernos para explorar novas possibilidades sonoras. É emocionante ver um instrumento tão antigo ganhar nova vida em contextos musicais inovadores.
Estou particularmente entusiasmado com as possibilidades de fusão entre a viola da gamba e a música eletrônica. O timbre rico e complexo do instrumento se presta bem a manipulações eletrônicas, criando texturas sonoras fascinantes que podem surpreender e encantar o público moderno.
Além disso, vejo um crescente interesse na viola da gamba entre jovens músicos. Muitos estão atraídos pela sua expressividade única e pela riqueza do seu repertório histórico. Ao mesmo tempo, esses jovens músicos estão trazendo novas perspectivas e técnicas para o instrumento, o que está levando a uma revitalização emocionante da tradição da viola da gamba.